quinta-feira, 17 de novembro de 2016

● Especialistas do Ibama investigam origem da mancha, que avança e afeta índios às margens do Rio Teles Pires, em Mato Grosso

VAZAMENTO DE ÓLEO PREJUDICA ALDEIAS INDÍGENAS
BRASÍLIA - Um grande vazamento de óleo de origem ainda não identificada poluiu as águas do Rio Teles Pires, numa área próxima ao local onde é construída a hidrelétrica de São Manoel, na divisa de Mato Grosso com Pará. A mancha de óleo, identificada no domingo, avançou rio abaixo e comprometeu o abastecimento de diversas aldeias indígenas às margens do rio.
Concessionária de hidrelétrica enviou galões de água para as 80 famílias
A causa do acidente está sendo investigada pelo Ibama, que deslocou especialistas para a região, de difícil acesso. O tamanho do estrago ambiental também está em fase levantamento. Não se sabe se o vazamento foi causado por problema na estrutura da barragem de São Manoel ou se está relacionado a outro fator, como o afundamento de balsas de garimpo ilegal, muito comuns no Teles Pires.
A concessionária Empresa de Energia São Manoel, dona da hidrelétrica, enviou barcos com garrafões de água para os índios. Cerca de 80 famílias, aproximadamente 320 pessoas, moram em aldeias próximas à estrutura de São Manoel.
Segundo Taravy Caiabi, liderança indígena da região, essas aldeias receberam cerca de 2.200 litros de água da São Manoel Energia na terça-feira. Outros 2 mil garrafões foram enviados na quarta-feira. “Isso tudo é uma tristeza muito grande para o nosso povo. Essa região é sagrada para nós. Agora, além de inundarem toda a terra, sujam nossa água. O peixe também sumiu. As pessoas estão ficando doentes, com diarreia. Todos estão preocupados com a saúde”, disse Caiabi.
Marcelo Amorim, coordenador substituto de Emergências Ambientais do Ibama, disse que o órgão sobrevoou a região e confirmou a presença do óleo. Ele não soube precisar, porém, a dimensão da mancha. “Tudo está sendo investigado para encontrar a causa do vazamento.”
Juliana de Paula Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA) que viveu na região, alerta para o risco de o problema se agravar. Pelo menos outros 900 indígenas vivem em aldeias a cerca de 60 quilômetros da usina. Mais abaixo ainda está a terra indígena mundurucu, onde vivem 8 mil pessoas. “Nenhuma dessas aldeias tem água tratada, os indígenas bebem água in natura do rio. Por isso, qualquer coisa que acontece nessa área é uma tragédia”, disse.
A empresa de Energia São Manoel declarou, em nota, que detectou a mancha de óleo no dia 13 de novembro, mas que situação da bacia do Teles Pires “já está normalizada”. A empresa informou que “está analisando as causas do ocorrido” e que segue com o monitoramento periódico da região.
São Manoel é uma das últimas grandes hidrelétricas que o governo conseguiu implantar na Amazônia, em meio a uma série de polêmicas envolvendo o impacto do projeto em terras indígenas e a inundação de regiões históricas e sagradas para os índios, como a chamada Sete Quedas do Teles Pires, que ficou debaixo d’água.
Processos. Além de São Manoel, o rio que dá origem ao Tapajós já foi barrado pela hidrelétrica de Teles Pires, Sinop e Colíder, em Mato Grosso. Esses empreendimentos acumulam pelo menos 24 processos movidos pelo Ministério Público Federal, a maior parte deles atrelados a desrespeito aos direitos indígenas e impactos ao meio ambiente, como ocorrências de grande mortandade de peixes.
A Empresa de Energia São Manoel pertence à EDP Brasil, Furnas e China Three Gorges, que preveem investimento de R$ 2,2 bilhões na hidrelétrica. As obras da usina de 700 megawatts foram iniciadas em setembro de 2014 e a previsão é que as operações comecem em janeiro de 2018. (Estadão Conteúdo)


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