FERREIRA GULLAR MORRE AOS 86 ANOS NO RIO
O poeta, escritor e teatrólogo Ferreira Gullar morreu neste
domingo (4) no Rio, aos 86 anos. Nascido José de Ribamar Ferreira em São Luís
(MA), em 10 de setembro de 1930, Ferreira Gullar foi um dos maiores escritores
brasileiros do século XX. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras
(ABL) em 2014, ocupando a cadeira nº 37. Cresceu em sua cidade natal e decidiu
se tornar poeta na adolescência. Com 18 anos, passou a frequentar os bares da
Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo da cidade. Aos 19 anos,
descobriu a poesia moderna depois de ler Carlos Drummond de Andrade e Manuel
Bandeira. O perfil de Gullar no site da ABL informa que, inicialmente, o
escritor "ficou escandalizado com esse tipo de poesia", mas mais
tarde aderiu ao estilo, tornando-se "um poeta experimental radical".
Certa vez, ao comentar o período, afirmou: "Eu queria que a própria
linguagem fosse inventada a cada poema". (G1)
TRADUZIR-SE (Ferreira Gullar)
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique a vontade para comentar o que quiser, apenas com coerência e sem ataques pessoais.