● Fui criado até os sete anos de idade num castanhal
chamado Garção no Pará, cujo meu pai fazia o aviamento (fornecimento de
mercadorias) aos extrativistas (a maioria negros e descendentes de índios) e
era o responsável pela compra das castanhas extraídas dos castanhais nativos
daquela Região. Convivíamos muito bem com todos. Meu pai levou o primeiro rádio
à pilha para essa região e à tardinha os extrativistas encostavam suas canoas
no porto para ouvirem a vós da América, a única rádio que era possível
sintonizar na época. Os negros ficavam abismados de ver aquela caixa de madeira
que falava e dava notícias do mundo todo. Lembro do seu Zé Marcelo, o benzedor,
o seu Bidi, que fazia as bolas de látex de seringueira para a gente jogar
futebol. Lembro do seu Zé de Anca, que tinha uma canoa bem comprida sempre
carrega de frutas para vender. Os negros eram extremamente extrativistas, quase
não plantavam nada, tudo o que precisavam extraiam da floresta e dos rios.
Frutas, caça e pesca. Tinham predileção por quelônios (tracajás e tartarugas)
que consumiam bastante desde ovos, filhotes recém-nascidos e adultos. Matavam
também animais, como jacarés, cobras e onças para comercializarem as peles. No
final da década de 70, foi criada a Reserva Biológica do Trombetas, unidade de
conservação de proteção integral de extrema restrição, onde só era permitido a
presença de fiscais e pesquisadores de órgãos ambientais e universidades.
Detalhe, a maior parte dos castanhais nativos onde os negros extraiam castanha
ficaram dentro da área da reserva. Aí começou o martírio dos extrativistas que
foram proibidos de adentrar na reserva e passaram a sofrer forte repressão dos
fiscais despreparados, impedindo com que eles continuassem fazendo o que sempre
fizeram, a extração de recursos naturais sua única fonte de sobrevivência, sem
lhes dar outra alternativa. Esse foi um dos maiores crimes ambientais, sim
porque o homem, principalmente o extrativista, também faz parte do meio
ambiente, na Amazônia. Pior, não receberam nenhuma indenização do governo pois
não tinham documentação das terras que ocupavam, Isso ainda hoje se repete na
criação de unidades de conservação de proteção integral, onde o homem é
considerado, pelos ambientalistas, o ser que não faz parte do meio ambiente a
ser preservado. A prioridade é para os animais silvestres e árvores nativas. Os
políticos, principalmente os da região Amazônica, que fazem as nossas leis,
precisam repensar isso. (Perfil do Facebook)
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