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GOVERNADORES ASSINAM CARTA EM REPÚDIO A DECLARAÇÕES DE BOLSONARO - Governadores de 20 estados elaboraram uma carta “em
defesa do pacto federativo” na qual criticam declarações de Jair Bolsonaro,
feitas no último final de semana, sobre a morte do miliciano Adriano da
Nóbrega, na Bahia. Na nota, divulgada nesta segunda (17), os governadores citam
recentes falas de Bolsonaro “confrontando os governadores” e “se antecipando a
investigações policiais para atribuir graves fatos à conduta das polícias e
seus governadores”. A iniciativa de se posicionar contra as falas de Bolsonaro
partiu do governador Wilson Witzel (PSC-RJ), endossada em seguida por João
Doria (PSDB-SP). Ambos são adversários políticos do presidente. Depois, outros
governadores chancelaram a proposta.
A carta, divulgada pelo Fórum dos Governadores, começou a
ser gestada no final de semana, após Bolsonaro ter acusado a “PM da Bahia do
PT” de uma “provável execução” de Adriano, ex-capitão da PM morto em operação
policial no último dia 9. O presidente insinuou que pode ter havido queima de
arquivo pela polícia da Bahia, o que foi rebatido pelo governador do estado,
Rui Costa (PT). Homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio pelo
hoje senador Flávio Bolsonaro (sem partido), Adriano é citado na investigação
que apura a prática de “rachadinha” (esquema de devolução de salários) no
gabinete do então deputado estadual. O miliciano teve a mãe e uma ex-mulher
nomeadas por Flávio. A carta também aborda declarações de Bolsonaro sobre a
reforma tributária. Segundo eles, o presidente se referiu à reforma, “sem
expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzir
impostos vitais para a sobrevivência dos estados”.
A conduta, avaliam, não contribui “para a evolução da
democracia no Brasil”.
“É preciso observar os limites institucionais com a
responsabilidade que nossos mandatos exigem. Equilibro, sensatez e diálogo para
entendimentos na pauta de interesse do povo é o que a sociedade espera de nós”,
dizem os governadores na nota.
“Trabalhando unidos conseguiremos contribuir para
melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, pela redução da desigualdade
social e a busca pela prosperidade econômica. Juntos podemos atuar pelo bem do
Brasil e dos brasileiros”, continua a carta.
Ao final, eles convidam Bolsonaro a participar de um
encontro do fórum em 14 de abril.
Assinam a nota governadores de 20 estados: São Paulo, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Sergipe, Piauí, Rio Grande do
Norte, Bahia, Paraíba, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Maranhão, Acre,
Amapá, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso do Sul e Amazonas.
Não assinaram a carta os governadores Carlos Moisés
(PSL-SC), Marcos Rocha (PSL-RO), Antonio Denarium (PSL-RR), Ronaldo Caiado
(DEM-GO), Mauro Mendes (DEM-MT), Mauro Carlesse (DEM-TO) e Ratinho Júnior
(PSD-PR).
Em entrevista à imprensa nesta segunda-feira, Rui Costa
afirmou que as últimas declarações do presidente foram recebidas com indignação
pelos governadores.
“Estados e municípios não podem ser agredidos de forma
regular e constante pelo presidente da República. Governar não é isso, não é
agredir prefeitos e governadores toda semana. É preciso dar um basta”, afirmou
o petista.
Além de criticar o comportamento de Bolsonaro, Costa
sugeriu que o presidente se ocupasse mais dos problemas do país e menos dos
problemas dos filhos.
“Espero que o presidente dedique seu tempo para cuidar do
desemprego, do aumento da pobreza e de parar de tirar o Bolsa Família do
Nordeste. […] Ao invés de ficar cuidando os problemas dos filhos, ele deveria
cuidar dos problemas do país”, afirmou.
Ele ainda afirmou que não será a polícia da Bahia, mas a
do Rio, que vai investigar as possíveis relações do miliciano Adriano da
Nóbrega com autoridades do país. Os celulares apreendidos com o ex-capitão, diz
o governador, foram remetidos para o Ministério Público do Rio.
“Se há receio de alguém em saber se naqueles telefones
existem contatos com autoridades do país, quem vai responder isso é o
Ministério Público do Rio de Janeiro. Não é a Bahia que vai apurar com quem
aquele bandido, aquele marginal, mantinha conversas e negociações”.
Na primeira vez em que falou sobre a morte do ex-PM, no
sabado (15), o presidente abriu duas frentes para se defender: driblou antigas
convicções para colocar em xeque a gravidade da atuação criminosa do miliciano
e adotou um tom eleitoral ao responsabilizar o PT.
Bolsonaro criticou na ocasião a polícia da Bahia por não
ter preservado a vida do ex-capitão durante a operação. Normalmente, o
presidente é um forte apoiador das polícias, mesmo quando as ações resultam em
mortes.
Neste sábado, Bolsonaro também ensaiou uma defesa da
presunção de inocência, não replicada no passado diante de condenações de
adversários. “Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão
Adriano por nada, sem querer defendê-lo”, afirmou.
Os laços de Adriano com a família do presidente podem ir
além das contratações. Segundo o MP-RJ, contas do ex-capitão foram usadas para
transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, suspeito de comandar o esquema de
devolução de salários no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro.
(Folhapress)
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