RIO GRANDE DO SUL LIDERA ESTATÍSTICAS DE SUICÍDIO NO PAÍS
FOLHA DE S.PAULO - FELIPE BÄCHTOLDENVIADO ESPECIAL A
VENÂNCIO AIRES (RS)
Estado entre os melhores do país em indicadores sociais, o
Rio Grande do Sul lidera estatísticas em uma área que preocupa governos e
intriga pesquisadores: o de recordista em taxas de suicídio.
Órgãos de saúde do Estado tentam quebrar o silêncio sobre um
tema sempre delicado e ampliar o atendimento a pacientes que consideram em
situação de risco. Os gaúchos têm índices que atingem o dobro da média
nacional.
Entre 2007 e 2010, o Estado teve 10,2 mortes por suicídio a
cada 100 mil habitantes – valor próximo ao de países europeus como Suécia e
Noruega, que já foram conhecidos por índices elevados desse tipo de morte.
Dados do Ministério da Saúde tabulados pela Folha com
cidades brasileiras acima de 50 mil habitantes apontou que, no período de 2007
e 2011, estão no Rio Grande do Sul 9 das 20 cidades que proporcionalmente
tiveram mais casos. Continue lendo...
O epicentro do fenômeno no Estado está no vale do Rio Pardo,
região conhecida como um polo mundial da produção de fumo.
Um dos municípios mais ricos do Estado, Venâncio Aires teve
79 casos em cinco anos (o equivalente a 23,1 casos para cada 100 mil
habitantes).
Na cidade de 69 mil habitantes a 127 km de Porto Alegre, o
tema é um tabu. A explicação comum é a forte influência da cultura alemã e seus
padrões de auto exigência.
Cerca de 10% dos leitos do principal hospital local são
destinados à psiquiatria. Nos últimos anos, a prefeitura começou a investir em
um programa de prevenção baseado em internações e grupos de ajuda.
O delegado Felipe Cano diz que os casos na localidade são
tão numerosos que não é possível traçar um perfil dos mortos: há de pobres a
ricos, jovens e idosos, moradores do centro e da área rural.
"Todo mundo sabe de uma história com um vizinho, um
conhecido. E é uma coisa que não se divulga justamente para não fomentar",
afirma.
Enquanto a cidade possui taxas de criminalidade baixas, na
delegacia há centenas de fotos de investigações de suicídios, que precisam ser
apurados até que a hipótese de crime seja descartada.
A enfermeira Cristina Teles, que atua na prevenção no
município, diz que uma possível causa é um efeito de repetição. "A pessoa
pensa: `meu pai fez isso, meu avô fez isso'. Em um momento de crise, cogita
também fazer."
FUMO
Nos anos 90, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul levantou uma hipótese que associa a alta dos suicídios ao uso de
agrotóxicos chamados organofosforados nas plantações de fumo. O trabalho
apontava a possibilidade de o produto gerar efeitos comportamentais no
agricultor.
O debate sobre o assunto fez com que até um projeto de lei
fosse encaminhado no Congresso banindo o uso esses produtos. A proposta segue
parada desde 2011. (Folha de São Paulo)
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