Quando surgiu no noticiário, a informação sobre a
escandalosa compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, nos EUA, era apenas
isso: uma notícia relativa a um novo mau negócio executado por um governo cujo
paradigma administrativo é o de fazer péssimas escolhas no campo econômico,
desconsiderando frontalmente todos os pilares que o permitiram chegar até os
dias atuais. É claro que uma aquisição daquela monta, contrariando todos os
indícios de que se tratava de uma boa compra, levantava suspeitas naturais de
que servira basicamente para encobrir interesses escusos, como desvios de
recursos públicos e pagamento de propina.
Então, a operação Lava Jato, da Polícia Federal, não
havia sido deflagrada, pelo menos publicamente, pondo na cadeia diretores e
gerentes da Petrobras e alguns dos donos do poder empresarial no país. Mas vem
agora o maior delator da máquina de corrupção da Petrobras, o senhor Paulo
Roberto Costa, ex-diretor da companhia sob as vistas de quem, segundo ele
próprio, se perpetrou o infindável esquema de trambicagem que está sendo
revelado na estatal, e relaciona, literalmente, uma coisa com a outra. Costa
premiou o noticiário, por meio de mais uma de suas delações, com a informação
de que recebeu uma bolada para fazer vistas grossas à transação de Pasadena. Continue lendo...
Ele botou no bolso U$ 1,5 milhão para ficar caladinho e
não denunciar que a compra da refinaria norte-americana continha, sim,
elementos que poderiam embargá-la por órgãos de controle da própria estatal por
motivos óbvios: as vantagens da operação para a Petrobras não eram claras ou,
muito pelo contrário, a estatal poderia sofrer um enorme prejuízo, repartindo-o
com o contribuinte brasileiro e os seus acionistas, como está acontecendo.
Segundo o próprio Costa, a compra do voto de outra figura de lamentável
destaque da República nos dias atuais, Nestor Cerveró, teria sido infinitamente
mais cara.
Cerveró, que também se encontra preso e deve começar a
soltar a língua com medo de amargar uma eternidade na cadeia, como gente que
participou do conhecido mensalão, a exemplo do publicitário Marcos Valério, até
hoje preso, teria levado entre U$ 20 milhões a U$ 30 milhões para se associar a
todos que, por motivos que merecem ser investigados tanto quanto a roubalheira
que já está sendo apurada pela Operação Lava Jato, aprovaram a transação com a
refinaria nos Estados Unidos. Afinal, se os votos em favor do negócio de Pasadena
tiveram que ser comprados e por valores tão altos é claro que a operação era
passível de questionamento.
E, se não havia convencimento quanto às vantagens da
compra, ela não deveria ter sido feita. A menos que por trás da operação
vicejassem interesses menores que não pudessem se tornar públicos, como aqueles
que a corrupção preside, notadamente o das negociatas cujo objetivo é desviar
dinheiro da população para partidos e políticos que, a cada dia que passa,
constróem verdadeiras fortunas e turbinam seus patrimônios por meio da
influência e do poder. É por isso que a Lava Jato deve ampliar o foco de suas
investigações para o péssimo negócio de Pasadena. Bom, péssimo para o povo
brasileiro, porque para alguns, pelo menos até agora…
* Artigo publicado originalmente na Tribuna da
Bahia.
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