PADRE GAY AO PAPA: "IGREJA FAZ A NOSSA VIDA NUM
INFERNO"
Sacerdote polaco acusa hierarquia da Igreja de
"homofobia" e de "causar sofrimento a milhões de católicos"
Na véspera do arranque, em Roma, do Sínodo dos Bispos
sobre a família, o sacerdote polaco Krzysztof Charamsa, que até aí era
funcionário da Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, e professor de
duas universidades pontifícias, anunciou publicamente a sua homossexualidade e
a sua relação com um companheiro. Nesse mesmo dia, Charamsa enviou uma carta ao
Papa em que explicava a decisão de divulgar a sua orientação sexual e a sua
relação amorosa e acusava a Igreja de "homofobia" e de tornar a vida
de milhões de católicos gays "num inferno", escreve a BBC News, que
agora teve acesso ao conteúdo da carta. Continue lendo...
O Papa Francisco não respondeu, pelo menos até agora, ao
sacerdote polaco e este confessa não saber se isso chegará sequer a acontecer,
mas a sua vida, sim, mudou de forma radical de um dia para o outro, depois do
passo dado.
Naquele mesmo dia, 3 de outubro, o Vaticano condenou a
sua atitude como "muito grave e irresponsável" e expulsou-o da
Congregação para a Doutrina da Fé, o organismo que vela no Vaticano pela
doutrina e a moral católicas, onde ele trabalhava há mais de uma década, das
duas universidades pontifícias onde era professor, em Roma, e também da
Comissão Teológica Internacional, da qual Krzysztof Charamsa era secretário
adjunto.
Na altura, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi,
afirmou que a declaração do sacerdote polaco, "apesar do respeito que
merecem os acontecimentos e situações pessoais e as reflexões sobre eles",
era "muito grave e irresponsável" e constituía "uma pressão
mediática injustificada", em véspera do Sínodo da Família.
O sacerdote não nega esta intenção. O seu objetivo terá
sido justamente esse, o de chamar a atenção para "o sofrimento" a que
a Igreja, "com a sua perseguição, sujeita milhões de católicos no mundo
inteiro", como afirma na carta que enviou ao Papa Francisco.
Krzysztof Charamsa, escreve a BBC News, denuncia ainda na
missiva "a hipocrisia do Vaticano", que baniu em 2005 a ordenação de
padres homossexuais - uma decisão tomada no papado de Bento XVI - quando a hierarquia
da Igreja "está cheia de homossexuais".
Na explicação que dá ao Papa sobre a decisão de vir a
público falar da sua homossexualidade e da relação que mantém há anos, o padre
garante que o fez "depois de um longo e atormentado período de reflexão e de
oração", para "rejeitar a violência da Igreja para com gays,
lésbicas, bissexuais e transexuais". A hierarquia do Vaticano, denuncia na
missiva, "está cheia de homossexuais", mas "é com frequência
violentamente homofóbica", o que, diz o padre polaco, "não podia
tolerar mais".
Krzysztof Charamsa agradece ainda a Francisco as suas
palavras benévolas para com os homossexuais - o Papa disse em 2013,
referindo-se a padres homossexuais, "quem sou eu para julgar?".
Quanto ao desfecho do Sínodo, que nesta matéria não
conheceu qualquer abertura, a decisão do padre polaco não terá, afinal, surtido
o efeito que ele procurava. (BBC News)
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