EXÉRCITO E PF DESCOBREM REDE DE CONTRABANDO DE ANIMAIS
SILVESTRES QUE MOVIMENTA R$ 3 BI AO ANO
A atividade clandestina atinge de forma negativa o
ecossistema da Amazônia, traz graves consequências de ordem social e econômica
e perde apenas do tráfico de armas e de drogas
POR NÁFERSON CRUZ E JOANA QUEIROZ – A CRITICA
Um dos mais lucrativos comércios ilegais do mundo é o
tráfico de animais silvestres. A atividade clandestina, além de atingir de
forma negativa todo ecossistema da Amazônia, traz graves consequências de ordem
social e econômica, movimentando em torno de R$ 3 bilhões por ano só no Brasil,
atrás apenas do tráfico de armas e de drogas.
A estimativa é da Organização Não Governamental (ONG)
Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), que aponta
que a movimentação do comércio clandestino pode chegar a 38 milhões de animais
silvestres capturados de seus habitats naturais e exportados, principalmente,
para países europeus e asiáticos.
Para se ter uma ideia do movimento da atividade, um grama
de veneno de cobra chega a custar cinco vezes mais que um grama de ouro, e uma
cobra contrabandeada pode custar entre 1,5 mil a 4,5 mil dólares.
Na “Operação Ágata”, desencadeada pelo Exército
Brasileiro com o apoio da Polícia Federal, iniciada na última semana, uma rede
de contrabando de animais silvestre foi descoberta. Ainda não há detalhes
sobre a atuação da rede criminosa no Estado, mas há indícios de que possa
ser uma das maiores em atuação. De acordo com o general Guilherme Theóphilo
Gaspar, responsável pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), o relatório
completo das ações da operação Ágata chegará a ele no decorrer da semana. Tão
logo, o documento seja analisado pelo comandante, os detalhes pertinentes à
suposta quadrilha serão divulgados, caso não venham a embaraçar
outras ações em andamento.
Tráfico dos animais - Continue lendo...
Segundo o relatório publicado pela Renctas, 60% dos
animais comercializados ilegalmente são para consumo interno, o chamado tráfico
doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos animais retirados da
fauna brasileira, principalmente da região amazônica, onde quadrilhas estão
diariamente empenhadas no contrabando de animais.
De acordo com agentes fiscalizadores do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no
Amazonas, após capturados, os animais são submetidos a várias práticas
agressivas durante o transporte para os centros consumidores. O papagaio, por
exemplo, é sedado e escondido em tubos de PVC, no fundo de malas, e as cobras
são presas em meias de nylon, entre outros métodos cruéis.
O transporte ilegal de animais ocorre principalmente por
via fluvial e tem como destino de parte das espécies desde a utilização pela
indústria farmacêutica até a comercialização com colecionadores.
Punição aos infratores
A Lei Ambiental 9.605/98 e Decreto n° 3.179/99, artigo
29, impõe as sanções para os traficantes e infratores, com detenção de
seis meses a um ano, e multa para quem transportar ou comercializar animais
silvestres sem a devida permissão.
Cobras estão entre as mais valorizadas
Além da cobra, cuja espécie é bastante valorizada no
comércio ilegal, papagaios, araras, periquitos e tucanos são as principais
espécies de animais silvestres da Amazônia contrabandeados para Estados das
regiões Sul e Sudeste do País e até para o exterior. Segundo a ONG Renctas, as
aves são as espécies preferidas pelo tráfico, chegando a 82%.
Geandro Pantoja Superintendente substituto do Ibama-AM
O tráfico de animais silvestres infelizmente ainda é
muito recorrente no Amazonas. As espécies mais visadas são os quelônios
(tartaruga, tracajá e iaçá), com maior intensidade nos municípios de Manacapuru
e Manaus, onde o mercado consumidor é bastante atrativo para os traficantes
dessas espécies. Existem também as rotas internacionais de contrabando de
borboletas, pássaros e peixes para uso ornamental, como o aruanã e cascudo
zebra. Vale ressatar que o Ibama do Amazonas vem intensificando as ações
fiscalizatórias e levantamentos de inteligência, inclusive em ambientes
virtuais, através de parcerias com a Superintendência da Polícia Federal,
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Receita Federal e Batalhão
Ambiental. Estamos atentos e temos interceptado diversas rotas com destino à
Colômbia e à Europa. No entanto, é preciso também que o cidadão colabore, pois
o tráfico existe porque tem demanda”.
Peixes ornamentais na ‘rota’
O chefe do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia
(CMA), general Ubiratan Poty, revelou que, durante a operação Ágata, que
encerrou na última quinta-feira, foi apreendida uma grande quantidade de peixes
ornamentais, capturados no Município de Codajás (a 240 quilômetros de Manaus) e
vendidos a centavos no Brasil, para depois serem contrabandeados e vendidos no
mercado negro, em dólar.
“O tráfico de animais silvestres no Amazonas já é quase
maior do que o de drogas”, disse o general. De acordo com ele, a biodiversidade
é enorme tem um alto valor em outros países. São espécies de animais e
plantas, muitos objetos de pesquisas que podem resultar em produtos para a cura
de doenças que já existem e de outras que ainda vão aparecer, daí o interesse
financeiro.
Durante a operação Ágata deste ano, segundo o general,
foram presas pessoas que estavam transportando pequenos quelônios, além dos
peixes ornamentais cujo destino era o mercado negro de tráfico de animais.
“Eles (os animais) vão para Ásia, Europa e para os Estados Unidos”, disse.
O general Poty destacou o caso de uma serpente, retirada
ilegalmente do Brasil pela fronteira com a Guiana, passando pela cidade de
Bonfim, em Roraima. Por ser único no mundo, o animal foi avaliado em mais de R$
3 milhões e os filhotes foram vendidos aos pares, a preços de variavam de R$
78,5 mil a R$ 188,4 mil. (A Critica)
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