Eike não se enxerga como chefe de quadrilha criminosa.
Seus amigos e ex-funcionários tampouco o viam assim. Muitos ganharam e perderam
dinheiro embarcando em seus projetos. Louco, visionário, audacioso, megalômano,
empreendedor, místico e generoso – e até cafona e ingênuo – são adjetivos mais
associados a Eike do que “bandido” ou “mau-caráter”, segundo quem o conhece
bem. Era “mão-aberta”, não só em troca de incentivos fiscais. Não fazia segredo
de sua carência maior: ser amado, especialmente no Rio.
Acusado de repassar e ajudar a esconder propina de US$
16,5 milhões – um pingo no oceano que inundou as finanças do ex-governador do
Rio de Janeiro Sérgio Cabral –, Eike é o alvo da hora da Operação Lava Jato.
Mesmo antes de ter mandado de prisão preventiva contra ele, Eike já despertava
misto de ódio e inveja....Hoje paga pela ostentação, pelos carrões na sala de
sua casa no bairro do Jardim Botânico, os jatinhos, os barcos de corrida, os
implantes de cabelo e Botox. Paga pela insistência em prever, com seu riso
estranho, que se tornaria o homem mais rico do mundo. O povo não perdoa ricos
exibidos.....O que me surpreende é que seus amigos não tenham coragem de vir a
público defender seu outro lado. Uma vez testemunhei, no restaurante chinês Mr
Lam, de sua propriedade, os efeitos de sua personalidade. O trabalho parecia
ser sua maior diversão. Seus convidados, um bando de empresários orientais, só
faltavam beijar seus pés. Ao longo de sua ascensão, vimos alguns admiradores
ferrenhos de Eike......Eike fez Madonna chorar, num jantar íntimo no Rio em sua
casa, ao dar R$ 12 milhões para a Fundação SFK (Success for Kids), que ajudaria
crianças brasileiras e suas mães vítimas de violência. Eike deu para a Santa
Casa da Misericórdia um aparelho de ressonância magnética que custou quase US$
2 milhões. “Todo mundo pede socorro ao Eike. Daqui a pouco vão ter de fazer uma
estátua dele de braços abertos no alto de um morro”, afirmou o neurocirurgião
Paulo Niemeyer Filho.
Uma vez, caminhando no Morro do Borel com o ex-secretário
de Segurança José Mariano Beltrame, perguntei sobre o acordo entre o governo do
estado e sete grandes empresários que criaria um fundo para infraestrutura nas
favelas ocupadas. “Só o Eike Batista honrou esse acordo”, disse Beltrame. “Ele
contribui com R$ 20 milhões por ano.” A sede azul e branca da UPP exibia carros
reluzentes. “Viu as camionetes?”, perguntou Beltrame. “Todas compradas com a
ajuda do Eike. As motos para coleta de lixo também.”
O ator Rodrigo Santoro disse que o apoio financeiro de
Eike foi “o fator decisivo” para que o filme Heleno de Freitas acontecesse.
Eike ajudou Arnaldo Jabor a financiar A suprema felicidade, ajudou Cacá Diegues
a realizar Cinco vezes favela. ....Eike começou comprando ouro no Xingu aos 22
anos, magrelo, com botas e chapéu. Terminou vendendo grandes projetos e até
pasta de dentes – seu negócio mais recente. Dizia, no auge, que seu sonho era
nadar “numa Lagoa Rodrigo de Freitas limpa” e por isso deu milhões para a
despoluição...
"Por que não somam tudo que o Eike doou e descontam
na dívida das empresas? Quem sabe, nós brasileiros, não estamos devendo a ele?
Acredite, não fosse a generosa doação vinda do Eike Batista, ainda estaríamos
com as portas do nosso hospital lacradas. A doação correspondeu a 1/3 do custo
total do nosso magnífico hospital, construído com esmero e tecnologia para
cuidar da criança independentemente da sua condição social. Todos os dias ao
chegar ao hospital, peço a Deus que cuide do Eike. Recebemos a última parcela
no fim de 2013 quando a empresa já estava com problemas. Ninguém tem direito de
tratar um ser humano com tal falta de dignidade."
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