Tive a alegria e a agonia de ser jurado no último
festival do Çairé em Alter do Chão, uma das manifestações culturais mais
bonitas que tive o privilégio de presenciar. Felizmente temos o rigor de um
regulamento para nos obrigar a decidir, ainda que contra muitos sentimentos
contraditórios que nos acompanham durante todo o processo de apresentação. São
duas grandezas que se completam de forma magnífica. Se de um lado temos a
precisão cirúrgica do Boto Tucuxi, na milimétrica ocupação do espaço cênico, na
opulência das alegorias, na riqueza das fantasias (presente nos dois botos) e
na elaboração das coreografias e relatos cênicos, do outro lado temos a poesia
e a delicadeza narrativa do Boto Cor de Rosa, onde a desordenada ocupação do
cenário e o cálculo mal resolvido no movimento das alegorias são amplamente
compensados pela entrega dos seus participantes e pela emoção que supera
qualquer tentativa de racionalizar uma apresentação que deve ser competitiva.
Não sei o que acontece com os outros jurados, mas só de
pensar em ter que tirar algum décimo de ponto de qualquer um dos Botos, para
atender ao rigor do regulamento criado pelos próprios dirigentes dos Botos com
assessores jurídicos, sinto que está acontecendo aquela velha história de que
nem tudo que é legal é justo e nem tudo que é justo, é legal! O espetáculo é
tão fascinante que tem horas em que a gente pensa em mandar o regulamento para
outro planeta e seguir somente aquilo que o coração manda, mas...Não existem
perdedores nessa contenda, somente vitoriosos ainda que existam oscilações e
diferenças nos números finais. O imaginário amazônico nunca foi tão feliz ao
ser descrito como nessa ópera popular que mistura diversas linguagens e nos
leva ao mundo encantado das águas e das florestas, sem esquecer a religiosidade
que é o ponto inicial da festa!
Um dos pontos culminantes desta noite foi a belíssima
composição de Nato Aguiar "Uirapuru" na voz de Salomão Rossy, que
serve para as duas agremiações. Ensinem-nos a preservar, cuidar e amar nossos
rios e florestas e continuem a nos fascinar com essa festa maravilhosa que
quanto mais descreve e revela, mas mistérios fascinantes nos apresentam.
Parabéns pela ideia de valorizar artistas da terra, parabéns a toda a equipe da
Prefeitura de Santarém! Viva o Çairé! Viva o Boto Cor de Rosa, Viva o Boto
Tucuxi!!! E, a partir de agora, só alegria, sem a agonia de ter que optar por
um só! Admiro e precisamos dos dois! (Enviado ao Blog pelo Whats App)
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