quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não adianta reclamar. Não haverá prefeito bom que dê jeito na situação da infraestrutura urbana em Santarém, pelo simples fato de não haver recursos para isso. É uma questão matemática...


De quem é a culpa pelo caos que Santarém viveu nesta terça-feira, 27 de fevereiro? Uma chuva torrencial – muito acima do normal, diga-se – atingiu a cidade pela manhã, alagando ruas e avenidas e casas e comércios. Os alagamentos causaram estragos e prejuízos financeiros, além de muitos contratempos para a população, especialmente a da periferia; e demonstraram  o quão precária é a infraestrutura urbana de Santarém.

As redes sociais caíram matando encima da prefeitura e do prefeito. Culpa deles?  Primeiro, não se pode condenar um governo com um ano apenas de mandato por décadas de falta de planejamento urbano e de investimentos em infraestrutura. Não houve tempo para reverter essa situação, nem mesmo se recurso houvesse para tal.

Segundo, é preciso ir mais a fundo no problema, pois o caos vivido nesta terça é consequência das escolhas que toda a sociedade santarena vem fazendo ao longo de décadas. É ai que está o problema. Santarém é um município com mais de 300 mil habitantes, mas que vive uma situação fiscal idêntica à de pequenas cidades do País: vive do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e de migalhas repassadas através de emendas ou convênios.

O município possui uma arrecadação própria praticamente insignificante diante das dimensões de seus problemas e da necessidade de investimentos em infraestrutura urbana. Some-se a isso o aperto fiscal gerado pelo inchaço na folha de pagamento de servidores, turbinada especialmente nos últimos quatro anos – e têm-se uma prefeitura com pouca capacidade de investimento próprio, sobrando ao prefeito a opção de tapar o sol com a peneira.

Esse é o resultado das escolhas econômicas da sociedade local. Praticamente todos os projetos empresariais ou públicos que poderiam alavancar a economia santarena, tornando o município forte do ponto de vista fiscal, ou foram rechaçados pela sociedade ou são deixados em segundo plano. A economia se baseia quase que exclusivamente no comércio e na prestação de serviços – em especial serviços educacionais e de saúde – prestados por uma elite que enche os bolsos e pouco sabe o que acontece na periferia.

Bem mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza, em subempregos que pagam pouco e exigem muito. As empresas que tentam se instalar na cidade sofrem uma verdadeira via crucis. Investidores de fora logo são tachados de forasteiros e não são bem vistos, muitos deles sendo praticamente expulsos. Vide os produtores de grãos. Muitos foram para  o Amapá ou Tocantins, e Santarém nessa área ficou sendo apenas uma promessa.

O turismo é uma doce ilusão. Não se tem um modelo de negócios para a exploração do turismo na cidade. O que se tem é, cada vez mais, um turismo de mochileiros sem dinheiro para gastar na cidade. Quem vem com recursos, não tem em que gastar. Não adianta aquelas lindas imagens de transatlânticos passando. Quando eles descem, são oferecidas uma guloseimas baratas e uns "artesanatos" de durapóxi.      

A cidade atrai cada vez mais pessoas, criando-se novas favelas a cada dia. Projetos imobiliários privados planejados – dotados de toda infraestrutura urbana – são rechaçados e proibidos, em detrimento a invasões e bairros que surgem do dia para a noite sem qualquer planejamento e ingerência do poder público. Santarém hoje é mal vista por todo e qualquer empreendedor no País. 

Não adianta reclamar. Não haverá prefeito bom que dê jeito na situação da infraestrutura urbana em Santarém, pelo simples fato de não haver recursos para isso. É uma questão matemática, e não de vontade política. Ou a sociedade começa a definir um projeto de futuro para a cidade que contemple o crescimento econômico, ou Santarém não vai sair do buraco.

Não adianta essa conversinha mole e “green” de sustentabilidade. Isso fica bonitinho nas rodadas de vinhos caros nas mesas dos bacanas, em suas mansões em Alter do Chão ou nas encostas ensolaradas do Rio Tapajós. Uma cidade precisa de recursos para se manter. E para arrecadar, tem que produzir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique a vontade para comentar o que quiser, apenas com coerência e sem ataques pessoais.