De quem é a culpa pelo caos que Santarém viveu nesta
terça-feira, 27 de fevereiro? Uma chuva torrencial – muito acima do normal,
diga-se – atingiu a cidade pela manhã, alagando ruas e avenidas e casas e
comércios. Os alagamentos causaram estragos e prejuízos financeiros, além de
muitos contratempos para a população, especialmente a da periferia; e
demonstraram o quão precária é a
infraestrutura urbana de Santarém.
As redes sociais caíram matando encima da prefeitura e do
prefeito. Culpa deles? Primeiro, não se
pode condenar um governo com um ano apenas de mandato por décadas de falta de planejamento
urbano e de investimentos em infraestrutura. Não houve tempo para reverter essa
situação, nem mesmo se recurso houvesse para tal.
Segundo, é preciso ir mais a fundo no problema, pois o
caos vivido nesta terça é consequência das escolhas que toda a sociedade
santarena vem fazendo ao longo de décadas. É ai que está o problema. Santarém é
um município com mais de 300 mil habitantes, mas que vive uma situação fiscal
idêntica à de pequenas cidades do País: vive do FPM (Fundo de Participação dos
Municípios) e de migalhas repassadas através de emendas ou convênios.
O município possui uma arrecadação própria praticamente
insignificante diante das dimensões de seus problemas e da necessidade de
investimentos em infraestrutura urbana. Some-se a isso o aperto fiscal gerado
pelo inchaço na folha de pagamento de servidores, turbinada especialmente nos
últimos quatro anos – e têm-se uma prefeitura com pouca capacidade de
investimento próprio, sobrando ao prefeito a opção de tapar o sol com a
peneira.
Esse é o resultado das escolhas econômicas da sociedade
local. Praticamente todos os projetos empresariais ou públicos que poderiam
alavancar a economia santarena, tornando o município forte do ponto de vista
fiscal, ou foram rechaçados pela sociedade ou são deixados em segundo plano. A
economia se baseia quase que exclusivamente no comércio e na prestação de
serviços – em especial serviços educacionais e de saúde – prestados por uma
elite que enche os bolsos e pouco sabe o que acontece na periferia.
Bem mais da metade da população vive abaixo da linha da
pobreza, em subempregos que pagam pouco e exigem muito. As empresas que tentam
se instalar na cidade sofrem uma verdadeira via crucis. Investidores de fora
logo são tachados de forasteiros e não são bem vistos, muitos deles sendo
praticamente expulsos. Vide os produtores de grãos. Muitos foram para o Amapá ou Tocantins, e Santarém nessa área
ficou sendo apenas uma promessa.
O turismo é uma doce ilusão. Não se tem um modelo de
negócios para a exploração do turismo na cidade. O que se tem é, cada vez mais,
um turismo de mochileiros sem dinheiro para gastar na cidade. Quem vem com
recursos, não tem em que gastar. Não adianta aquelas lindas imagens de
transatlânticos passando. Quando eles descem, são oferecidas uma guloseimas
baratas e uns "artesanatos" de durapóxi.
A cidade atrai cada vez mais pessoas, criando-se novas
favelas a cada dia. Projetos imobiliários privados planejados – dotados de toda
infraestrutura urbana – são rechaçados e proibidos, em detrimento a invasões e
bairros que surgem do dia para a noite sem qualquer planejamento e ingerência
do poder público. Santarém hoje é mal vista por todo e qualquer empreendedor no
País.
Não adianta reclamar. Não haverá prefeito bom que dê
jeito na situação da infraestrutura urbana em Santarém, pelo simples fato de
não haver recursos para isso. É uma questão matemática, e não de vontade
política. Ou a sociedade começa a definir um projeto de futuro para a cidade
que contemple o crescimento econômico, ou Santarém não vai sair do buraco.
Não adianta essa conversinha mole e “green” de
sustentabilidade. Isso fica bonitinho nas rodadas de vinhos caros nas mesas dos
bacanas, em suas mansões em Alter do Chão ou nas encostas ensolaradas do Rio
Tapajós. Uma cidade precisa de recursos para se manter. E para arrecadar, tem
que produzir.
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