segunda-feira, 24 de abril de 2023

● ATIVISTA DA AMAZÔNIA leva o Prêmio Goldman Environmental Prize, que é um prêmio atribuído anualmente a seis defensores do meio ambiente, de cada uma das seis regiões geográficas: África, Ásia, Europa, Ilhas e Ilha das Nações unidas, América do Norte e do Sul e América Central.

● Prêmio Goldman homenageia indígena que impediu gigante da mineração - Uma líder da comunidade indígena Munduruku do Brasil foi reconhecida por sua luta bem-sucedida contra a mineração na floresta amazônica.
Alessandra Korap Munduruku, 39, recebeu o Prêmio Goldman deste ano, que reconhece o ativismo de base.
Sua campanha vocal para proteger o território Munduruku a levou a confrontar a gigante da mineração Anglo American.
Como resultado, a Anglo American retirou 27 pedidos de pesquisa para minerar dentro de territórios indígenas.
A mudança da empresa representa uma rara vitória de uma comunidade indígena sobre uma das maiores mineradoras do mundo.
Questionada pela BBC se achava assustadora a perspectiva de enfrentar a gigante da mineração, Alessandra Korap Munduruku disse que extraiu força do território que pretendia proteger.
"Ela [Anglo American] pode ser poderosa para você, mas para mim, os poderosos são o rio, a força do nosso território e do nosso povo, a formiga fazendo seu trabalho e a resistência do nosso povo há mais de 500 anos no lutar pela nossa terra".
Ela também disse que a mídia social desempenhou um papel fundamental para dar mais visibilidade à sua luta, aumentando assim a pressão sobre a Anglo American.
Com a ajuda da Coalizão dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e dos grupos de pressão Amazon Watch e Greenpeace, Alessandra redigiu uma carta aberta pedindo que a Anglo American retirasse as licenças para realizar pesquisas de mineração em territórios indígenas na Amazônia brasileira. As licenças foram emitidas sem o consentimento informado das comunidades indígenas, exigido pela constituição do Brasil.

FONTE DA IMAGEM,LEO OTEROLegenda da imagem, Alessandra participou das passeatas, mas diz que as redes sociais ajudaram sua luta a ganhar visibilidade

A princípio, a empresa negou ter tais licenças, mas após uma intensa campanha de mídia liderada por Alessandra, a Anglo American disse que as preocupações levantadas por ela a convenceram a retirar formalmente as mais de duas dezenas de pedidos de pesquisa que já haviam concedido.
A decisão da Anglo American levou a mineradora brasileira Vale a seguir o exemplo, com a mineradora reconhecendo que a prospecção em territórios indígenas exigia o consentimento das comunidades.
Alessandra conta que começou a atuar na defesa dos territórios indígenas em 2014, depois de testemunhar como a mineração de ouro estava afetando sua comunidade.
"Onde eu moro [no Pará, às margens do rio Tapajós], estão surgindo cada vez mais assentamentos. Meu povo vive da pesca para se alimentar. Mas já existem lugares onde o garimpo contaminou a água e matou do peixe", explica ela.
"Quando eu era criança, tinha uma liberdade imensa. Pescávamos nos rios e nas lagoas, colhíamos frutas e as sementes que usamos para fazer nosso artesanato. Mas a partir de 2014, vi essas áreas virarem desertos por garimpeiros e outros grandes máquinas."

FONTE DA IMAGEM,PRÊMIO AMBIENTAL GOLDMANLegenda da imagem, A área ao redor do rio Tapajós, onde Alessandra cresceu, sofreu com a mineração e o desmatamento

Alessandra conta que foram essas mudanças que a tiraram da vida de cuidar dos filhos e do marido e a transformaram em ativista.
Mas ela diz que não foi fácil assumir um papel de liderança em sua comunidade no início.
"Em nossa cultura, tradicionalmente são os homens que tomam as decisões, são os homens que vão caçar e pescar. Nós, mulheres, devemos permanecer em nosso reino, cuidando do marido, dos filhos e do lar."
Alessandra foi encorajada por outra mulher Munduruku, Maria Leusa Kaba Munduruku, a desafiar esses rígidos papéis de gênero.
Eu já estava ajudando os caciques (lideranças indígenas) e ela me viu e me disse: "Alessandra, continua, não desista, você vai levar muito pau dos homens, dos caciques, mas nós, mulheres, não podemos ceder."
Ela conta que sempre acreditou que era importante que todas as vozes fossem ouvidas, inclusive as das mulheres e crianças, mas que no início encontrou resistência.
"'Por que as mulheres querem falar? As mulheres devem cuidar de seus maridos, não fazer discursos', alguns chefes me disseram", lembra ela.
Quando os Munduruku foram atacados por garimpeiros ilegais alguns anos atrás, a própria mãe de Alessandra implorou para que ela desse um passo atrás, mas ela insistiu que tinha que continuar na luta.
"Mãe, enquanto existir nossa comunidade e nosso território, continuarei lutando [para defendê-los]", disse a ela.

FONTE DA IMAGEM,LEO OTEROLegenda da imagem, Alessandra está determinada a continuar defendendo a terra onde seu povo vive

Alessandra afirma que, na última década, cada vez mais mulheres se uniram à luta pela defesa de seus territórios e hoje desempenham um papel fundamental.
Ela é inflexível, porém, que a chave para vitórias como a que ela conquistou contra a Anglo American é construída ao reunir toda a comunidade.
A carta aberta que ela enviou à empresa foi baseada em declaração oficial elaborada em assembléia com a presença de 45 caciques e 200 participantes.
“Nós, mulheres, não queremos passar por cima dos caciques , mas queremos estar ao lado deles, decidindo com eles; nosso papel como mulheres não é dividir a comunidade, mas unir todos”.

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