O apelo de Bolsonaro, tal como no caso de Collor, ecoa
desespero. Até virem a público as trocas de mensagens entre seus ex-auxiliares,
militares e civis, e o vídeo da reunião
no Planalto em que medidas ilegais para impedir a posse de Lula eram
tratadas sem disfarce, o ex-presidente era visto como um grande cabo eleitoral
da direita. Nessa condição, seria natural que essas forças assumissem a defesa
de seu líder e protestassem contra a “perseguição” de que ele se diz vítima.
Não é bem isso que se vê.
Bolsonaro precisou apelar ao governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, para que subam no
seu palanque. Ambos devem comparecer, apesar de pressões de outros aliados,
preocupados com a toxidade da companhia de Bolsonaro. Tarcísio vem mantendo
relação amistosa com o presidente Lula e, por isso, é atacado pelos radicais
nas redes. Deve usar o evento para equilibrar o próprio jogo, já que em parte
deve sua eleição a Bolsonaro. Nunes vai disputar a reeleição e talvez não possa
se dar ao luxo de abrir mão do voto dos bolsonaristas. Se for, vai contrariar
colaboradores e o próprio partido, o MDB.
O pastor evangélico Silas Malafaia prontificou-se a
bancar os custos e está em campanha nas redes divulgando o evento. Bolsonaro
pode até encher a Paulista — se conseguiram invadir o Congresso e o STF, deve
haver quem se disponha a aplaudi-lo —, mas a sua capacidade de liderar definha.
O fato de estar proibido de falar com Valdemar Costa Neto, presidente de seu
partido, o PL — em liberdade provisória, depois de amargar duas noites na
cadeia —, é mais um dos problemas.
Valdemar planejava tentar eleger ao menos mil prefeitos
em outubro, cerca de 20% do total. Agora, tem de se ocupar em salvar a própria
pele e em preservar o gordo caixa do PL, ameaçado com multas milionárias pelo
envolvimento do partido — com dinheiro público — nas articulações golpistas.
Ele via em Bolsonaro sua galinha dos ovos de ouro, passaporte para a eleição de
uma bancada de deputados federais, em 2026, que lhe proporcionaria o controle
de mais recursos. Com a vigilância da Polícia Federal isso vai ser bem mais
difícil.
Em 1992, depois que a população vestiu preto, o fim de
Collor foi selado. Bolsonaro ainda tem muita popularidade, mas os fatos
revelados esvaziam seu poder de comandar a oposição a Lula. O empresariado que
bancou sua aventura no poder na eleição de 2018 se retraiu e parece ter feito
as pazes com o governo petista. No mês passado, por exemplo, o Índice de
Confiança do Empresários Industrial (Icei) avançou 2,2 pontos, de 51,0 pontos
para 53,2 pontos. Setores radicais do agro estão na mira da Polícia Federal
pelo financiamento dos ataques de 8 de janeiro e, talvez, não queiram deixar
digitais agora.
Bolsonaro já está inelegível até 2030, e pode continuar
assim por ainda mais 23 anos, se for condenado pelos crimes de tentativa de
golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e
associação criminosa. O capitão começou a pedir socorro.
(Por: LYDIA MEDEIROS – Fonte: Congresso em Foco)
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