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É A COMUNICAÇÃO, ESTÚPIDO! Durante décadas vigorou a noção notavelmente
cunhada por James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton contra
George H.W. Bush: “É a economia, estúpido!”.
A performance econômica era decisiva nas eleições e,
antes dela, na avaliação de um governo. Essa objetividade perdeu espaço para
uma subjetividade tóxica, eivada de temas emocionais e viralizada em refrões
repetitivos nas redes, que nos aprisionam no eterno confronto estéril com quem
não é possível dialogar.
Nos EUA, apesar de um Biden economicamente bem-sucedido,
com baixo desemprego e melhoria na distribuição de renda, a popularidade de seu
governo cai enquanto Trump avança. Em Portugal, a economia forte e os
benefícios sociais não impedem a crise política e o crescimento da direita
xenófoba. No Brasil, melhorias econômicas sob Lula, como a elevação do PIB, o
reingresso do país entre as dez maiores economias do mundo e o aumento do
salário mínimo, não elevam sua popularidade, refletindo a polarização e o
impacto das narrativas emocionais da subjetividade nas disputas políticas.
As pesquisas Atlas e Quest, recém publicadas, mostram, em
números aproximados, que a aprovação de Lula caiu de 52% para 47%. A avaliação
negativa do governo subiu para 41%, enquanto a positiva caiu para 38%. O
desempenho e a avaliação caíram em todas as áreas. No entanto, a maioria dos
brasileiros – dados das próprias pesquisas citadas – continua considerando que
todos os setores do governo Lula têm um desempenho melhor do que os
apresentados no governo de Bolsonaro – incluindo educação, saúde,
meio-ambiente, redução da pobreza, justiça e combate à corrupção e segurança
pública. A máxima de James Carville, então, precisa ser rescrita: “é a
comunicação, estúpido!”.
Vivemos em uma sociedade saturada de comunicação, que
prioriza a rapidez dos bordões e mensagens virais que reafirmam crenças e
elegem líderes sem nenhuma competência, enquanto questões econômicas e demandas
sociais – que exigem análise e senso crítico – ficam em segundo plano.
Num cenário de disputa acirrada e de narrativas
polarizadas, a comunicação do governo Lula deveria ser uma solução e se tornou
um problema. Para mudar, precisa virar a chave das métricas e algoritmos frios
e da publicidade enlatada que pratica e abraçar a comunicação militante como
ferramenta estratégica para construir uma relação de confiança com a população
das periferias e do campo e divulgar de forma eficaz as conquistas e benefícios
das políticas implementadas.
Cunhei o conceito de comunicação militante no ano 2000,
quando publiquei, com Ruth Vieira, o livro que relatava nossa experiência de
comunicação ativa na prefeitura petista de Belém (1997-2000). O descrevemos
como “toda prática de comunicação de natureza ativista”, onde o objetivo
principal é promover, defender ou disseminar ideias e valores associados à
causa. É uma comunicação pedagógica, horizontal, de foco local, engajada, que
busca não apenas informar, mas também inspirar ação, feedbacks e engajamento
por parte do público. Diferencia-se da comunicação convencional por seu
compromisso explícito com as agendas progressistas. Mudar o caráter burguês da
publicidade institucional do governo federal, regionaliza-la, e organizar
núcleos de comunicadores locais, criando uma rede com centenas de milhares de
multiplicadores de conteúdo, mudará a forma como somos vistos por nosso público
de interesse.
Investir em uma comunicação militante, de baixo para
cima, regionalizada, acessível e estratégica, contribuirá significativamente
para abandonarmos o bate-boca inútil com os 24% imersos em insatisfações e
medos, que não converteremos, e reverter a desaprovação, promovendo uma imagem
positiva e verdadeira do governo Lula . Ou fazemos isso, ou os estúpidos
seremos nós.
(Por: Chico Cavalcante - é publicitário)
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