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PF INVESTIGA ESQUEMA DE R$ 180 MI EM CRÉDITOS DE CARBONO EM ÁREA GRILADA NA
AMAZÔNIA - A PF (Polícia Federal) investiga um suposto esquema de geração de
créditos de carbono, a partir da grilagem de terras públicas no sul do
Amazonas, que movimentou R$ 180 milhões somente com a venda desses créditos a
grandes empresas, boa parte delas gigantes multinacionais.
Policiais federais deflagraram uma operação nesta
quarta-feira (5) para prender preventivamente três empresários e duas pessoas
associadas a eles, além de cumprir 76 mandados de busca e apreensão em
Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Paraná, Ceará e São Paulo. A operação foi
chamada de Greenwashing.
As investigações são conduzidas pela PF em Rondônia. Os
mandados de prisão e busca foram expedidos pela Justiça Federal no Amazonas.
Ao todo, foram feitas buscas em 22 empresas, quatro
cartórios de registro de imóveis no sul do Amazonas e em órgãos públicos do
estado, como a superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) e uma secretaria do governo que cuida de questões
territoriais, segundo a PF.
O principal investigado é o grupo Ituxi, com atuação na
região de Lábrea, sul do Amazonas, uma das regiões mais desmatadas e degradadas
da Amazônia ocidental.
Conforme a PF, os mandados de prisão preventiva expedidos
pela Justiça se referem a Ricardo Stoppe Júnior, Elcio Aparecido Moço, José
Luiz Capelasso, Ricardo Villares Stoppe e Poliana Capelasso. Até o fim da tarde
desta quarta, o primeiro suspeito não havia sido preso e era considerado por
policiais como foragido.
Em nota, o grupo Ituxi afirmou que ainda não teve acesso
aos autos de investigação. “Assim que a Justiça autorizar a liberação do
conteúdo das denúncias, a empresa irá se manifestar publicamente”.
Três projetos de geração e venda de créditos de carbono
são alvos da investigação da PF. Uma empresa que desenvolveu projetos em parceria
com o grupo Ituxi –como são os casos dos projetos Fortaleza Ituxi, Unitor e
Evergreen, investigados pela polícia– é a Carbonext, que se apresenta como a
maior geradora de créditos de carbono no país a partir da proteção da amazônia.
A Carbonext não foi alvo de mandados de busca ou prisão.
Em nota, a empresa afirmou que é prestadora de serviços e não faz regularização
fundiária. “A Carbonext não é alvo da operação Greenwashing. Se as acusações
contra os alvos da operação forem comprovadas, a Carbonext também figurará como
vítima e tomará oportunamente as medidas judiciais cabíveis”.
O esquema investigado envolveu grilagem de áreas da União
que somam 538 mil hectares. Uma perícia da PF confirmou que as áreas são terras
públicas e que foram avaliadas em R$ 800 milhões. Parte dos terrenos grilados
está na Floresta Nacional do Iquiri e em glebas públicas não destinadas.
Ao todo, o suposto esquema de grilagem, esquentamento de
madeira e geração de créditos de carbono pode ter movimentado R$ 1,6 bilhão,
segundo a PF, valor que deve ser bloqueado para ressarcimento de danos.
As fraudes para viabilizar a grilagem se estenderam por
mais de dez anos, conforme a polícia. Títulos de propriedade foram duplicados e
falsificados, segundo a PF, que afirmou ter ocorrido inserção de dados falsos
em sistemas públicos, com participação de servidores e responsáveis técnicos.
As atividades se expandiram para as regiões de Apuí (AM)
e Novo Aripuanã (AM), também no sul do Amazonas, nos últimos três anos, disse a
PF.
Ainda segundo a política, por meio de fraudes, a suposta
organização criminosa cooptava agentes em cartórios e transformava terras
públicas em “privadas”.
Depois, planos de manejo eram usados para esquentar a
madeira extraída de territórios que deveriam estar preservados, como terras
indígenas. Com a área original em pé, começaram a surgir os projetos de
créditos de carbono, em cima de áreas supostamente griladas.
Os créditos eram gerados em projetos desenvolvidos em
parceria com a Carbonext, certificados pela empresa internacional Verra e
vendidos a multinacionais interessadas em compensar suas próprias emissões de
gases de efeito estufa.
Créditos de carbono são gerados a partir de atividades
que evitam desmatamento e degradação da floresta. O instrumento que permite isso
é o REDD+, desenvolvido no âmbito da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima.
Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que
deixa de ser emitida para a atmosfera em razão do desmatamento que foi evitado.
Entre as empresas que compraram créditos do grupo Ituxi,
segundo a PF, estão Boeing, Gol, iFood, Toshiba, Itaú, Ecopetrol, Nestlé,
Spotify e PwC. A PF diz tratar essas empresas como vítimas.
“Esses créditos não poderiam ter sido gerados por esse
empreendimento”, afirmou o delegado Thiago Scarpellini, com atuação na PF em
Rondônia, um dos responsáveis pela investigação. “A certificação feita está em
desconformidade com a atuação brasileira e não verifica ocorrência de grilagem,
por exemplo”.
Segundo o delegado, a empresa suspeita chegou a ingressar
com ação contra a União, mesmo tendo “usurpado a área, desmatado e desenvolvido
um plano de manejo”.
“Eles viram oportunidade de ter novos lucros ilegais,
alegando serem proprietários de uma floresta em pé, o que daria direito aos
créditos de carbono”, disse o delegado Humberto Freire, diretor de Amazônia e
Meio Ambiente na PF em Brasília. “É preciso que haja regulamentação desse
mercado, o que facilitaria a atuação de órgãos de fiscalização e persecução
penal”.
Para Freire, os créditos de carbono não podem existir em
nome da empresa suspeita. “A terra não é deles. Os créditos são nulos”.
O suposto esquema envolveu a exploração ilegal de mais de
1 milhão de m³ de madeira em tora, o que gerou um dano ambiental de R$ 606
milhões, conforme a PF.
(Fonte: Vinicius Sassine/Folhapress)
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