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domingo, 9 de fevereiro de 2025

Na internet, não tem vazios, não tem espera, não tem o tempo do silêncio. [Então] as crianças não conseguem mais lidar com o silêncio, não conseguem mais lidar com a frustração”, diz Iaconelli...

● INTERNET É COMO O FOGO: É COISA MARAVILHOSA, MAS NÃO NA MÃO DE CRIANÇA, DIZ VERA IACONELLI UIRÁ MACHADO - “A internet é uma ferramenta maravilhosa. Eu gosto de comparar a internet com a capacidade que o homem teve de produzir o fogo”, diz a psicanalista Vera Iaconelli em seu curso na CasaFolha. “Só que o fogo não é para dar na mão de criança. Ele queima, ele machuca.” O problema é que, como pais e mães sabem muito bem, já faz anos que a rede mundial de com putadores cabe inteira dentro da maioria dos celulares — os quais, por sua vez, cabem na palma da mão das crianças. Mudar essa realidade está longe de ser fácil. “Tem uma geração que já começa com a internet, para quem a internet é como a luz elétrica”, diz Iaconelli na plataforma de streaming da Folha, no sentido de que se trata de algo dado como certo e sem o qual não se imagina a vida moderna. Mas é preciso lidar com essa questão, sustenta a psicanalista, que é colunista da Folha e autora dos livros “Criar Filhos no Século XXI” e “Manifesto Antimaternalista”, entre outros. Em uma de suas aulas, ela argumenta que a infância é uma proteção para que as crianças não tomem contato com certos aspectos do mundo adulto antes da hora. “A internet pula o cercadinho da infância e faz com que a criança tenha acesso a inúmeras coisas inadequadas para o desenvolvimento dela.” A consequência pode ser vista nos danos à saúde mental de crianças e adolescentes, que sofrem com ansiedade, insatisfação com o próprio corpo, depressão. “Nós somos uma geração que está pagando o preço não do fato de a internet existir, mas de ela ter sido usada sem nenhuma regulação, sem nenhum controle, sem nenhuma seletividade”, afirma na CasaFolha. O curso de Iaconelli, chamado “Criar filhos no século 21”, está na plataforma desde o lançamento, em setembro de 2024. É anterior, portanto, à aprovação da lei que proíbe o uso de celulares em todas as escolas públicas e privadas do país. Até por isso, a discussão que a psicanalista propõe vai além dos espaços escolares. Ela argumenta na CasaFolha que é necessário adotar ações coletivas e individuais para proteger as crianças da internet em todos os ambientes—não só na sala de aula. “Ficar sem internet, para algumas crianças, é como perder um amigo”, diz Iaconelli. “Tem crianças tendo um ataque porque estão tirando o melhor amigo dela.” Isso significa, em muitos casos, que a criança confia mais na internet do que nos adultos e que ela perde uma parte relevante da experiência de vida em sociedade. “Quando se está frente a frente, tem um silêncio que se sustenta. Na internet, não tem vazios, não tem espera, não tem o tempo do silêncio. [Então] as crianças não conseguem mais lidar com o silêncio, não conseguem mais lidar com a frustração”, diz Iaconelli. Pais e mães, defende a psicanalista no curso, precisam resgatar a autoridade da parentalidade. “A gente está vivendo uma crise dos limites. Os pais se sentindo muito desautorizados, muito desprestigiados, incapazes de pôr limite nos filhos”, afirma. Adotar a internet como uma espécie de babá eletrônica só joga contra esse objetivo. “Depois, quando chegar na adolescência, os pais perguntam: ‘Mas você não conversa com a gente?’ [E o filho responde] ‘Escuta, mas eu não aprendi a conversar. Sempre tinha um aparelhinho entre nós’”, afirma. Para não deixar dúvidas quanto aos malefícios gerados pela internet, Iaconelli faz uma comparação: “ela funciona mesmo como uma droga. Ela tem essa competência de uma adição, e a gente deixa as crianças usarem isso sem nenhuma proteção”. E, se é assim, ela propõe: “Os pais precisam confrontar os filhos [em relação à internet] do mesmo jeito que confrontam no uso de drogas. A internet, do jeito que ela está distribuída hoje, nos celulares, a gente tem que intervir. Isso é necessário.” Em curso na CasaFolha, psicanalista analisa desafios da parentalidade, como limitar uso de celular em todos os ambientes, não só na escola. (Fonte Folha SP)

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