JUIZ DÁ RECADO A
ADVOGADO QUE FALOU QUE "PROPINA É COMUM"
Por Débora de Melo
de Curitiba
Advogado de Fernando Baiano disse que no Brasil não se
põe “um paralelepípedo no chão” sem propina; para juiz responsável pela Lava
Jato, dizer "todos nós roubamos" é inaceitável
Em decisão que prorrogou a prisão do lobista Fernando
Soares, conhecido como Fernando Baiano, o juiz federal Sérgio Moro, responsável
pela Operação Lava Jato, fez uma crítica indireta ao advogado Mario de Oliveira
Filho, que defende Baiano. Na quarta-feira, Oliveira Filho ficou nacionalmente
conhecido ao dizer que não
se faz obra pública no Brasil sem o pagamento de propina. Continue lendo...
“O fechar de olhos, com a aceitação do quadro criminoso,
como se o crime fosse algo natural e inevitável, não constitui uma escolha
aceitável. O álibi 'todos nós roubamos', lembrando o mesmo empregado no
contexto da Operações Mãos Limpas italiana pelo então 'criminoso zero', Mário
Chiesa ('tutti rubiano cosi'), não é jurídica ou moralmente aceitável
e,ademais, sequer é verdadeiro”, argumentou o magistrado. “Por mais que prática
criminosa da espécie tenha se espalhado pela falta de resposta institucional
adequada, é evidente que não abrange a todos, quer agentes públicos, empresas
ou demais indivíduos, e não representa o que pensa a sociedade brasileira”,
continuou o texto.
Na quarta, o advogado disse que o pagamento de propina
faz parte da “cultura” do País. “O empresário, porventura, faz uma composição
ilícita com algum político e paga alguma coisa. Se ele não fizer isso, e quem
desconhece isso desconhece a história do País, não tem obra. Pode pegar uma
prefeitura do interior, uma empreiteirinha com quatro funcionários. Se ele não
fizer acerto, ele não põe um paralelepípedo no chão”, disse Oliveira Filho na
ocasião.
Prisão prorrogada
A decisão de Moro determinou que a prisão temporária (cinco dias) de Baiano fosse transformada em prisão preventiva (30 dias). Segundo depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Baiano seria operador do esquema de corrupção na estatal, cobrando propina para o PMDB – o partido e o lobista negam as acusações.
Ao justificar a prorrogação da prisão, Moro afirmou que
“grande parte do esquema criminoso permanece ainda encoberto, sem que se tenha
certeza de que todos os responsáveis serão identificados e todo o dinheiro
desviado recuperado”. O magistrado, contudo, pondera que “aqui não se faz
crítica partidária, pois se desconhece ainda o alcance e a duração da prática
criminosa”.
Na decisão, o juiz ainda lembrou o "bloqueio de
valores milionários" em contas de empresas administradas por Baiano – Hawk
Eyes Administração de Bens, R$ 6,5 milhões; e Technis, R$ 2 milhões –, o que
indicaria “que tais contas eram utilizadas para recebimento de valores, possivelmente
indevidos”. “Evidentemente, caso esses valores tenham procedência lícita, em
consultorias de serviços reais e lícitos, terá o investigado condições de, com
facilidade, demonstrar documentalmente o fato a este Juízo”, completou Moro.
(Portal Terra)
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sábado, 22 de novembro de 2014
● Lava Jato: Advogado de Fernando Baiano fala a mais pura verdade e irrita juiz, sobre propina em obras públicas
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