Sob todos os ângulos que se possa observar, a vida no
Pará não é das mais fáceis, especialmente para as famílias que habitam a
periferia das cidades, privadas de serviços essenciais como água, tratamento de
esgoto e coleta de lixo.
Dados recentes levantados pela consultoria Macroplan para
o estudo “Desafios da Gestão Estadual” confirmaram o que há muito tempo a
população do Pará vem sentindo na pele. Quando o assunto são condições de
saneamento e habitação, o Estado se posiciona entre os últimos no país. Por
outro lado, é campeão em número de “aglomerados subnormais” (favelas ou
habitações improvisadas). Não por acaso, o déficit habitacional chega a 12,2%,
ocupando a 21ª posição no Brasil.
No ranking do saneamento básico, o Pará ocupa a 24ª
posição. E estamos na 25ª posição no que diz respeito à coleta de lixo e
abastecimento de água. “Os novos governadores encontrarão, em geral, um
cenário macroeconômico desfavorável e verão seus limites de atuação estreitados
pela restrição de recursos. Será preciso ‘fazer mais com menos’. Será
necessário inovar na gestão, definir prioridades e avançar em eficiência”,
alertam os técnicos no estudo.
PRECARIEDADES
Para os paraenses, contudo, o histórico alimenta poucas esperanças
no curto e médio prazo. “Moro aqui há 30 anos e nada melhorou”, diz o pedreiro
José Ribamar, 49 anos, morador de uma vila improvisada com casas de madeira
coladas umas às outras no bairro de Canudos. Apesar de receber água da
Companhia de Saneamento nas torneiras, ele conta que todos os dias,
religiosamente, o abastecimento é cortado às 22h. Para ter o lixo coletado, ele
caminha cerca de 500 metros até uma rua mais movimentada, onde passa o caminhão
da prefeitura. Como em toda a vizinhança, a casa de Ribamar não tem coleta de
esgoto. Os dejetos vão para uma fossa improvisada.
O estudo da Macroplan atesta que a situação de José
Ribamar não é exceção. No Pará, apenas uma de cada três residências recebem o
saneamento básico adequado.
A dona de casa Maria de Fátima Borges divide uma casa de
três cômodos no bairro do Guamá com 12 pessoas (marido, filhos, netos). “Meu
sonho é que tirem essa vala daqui da frente”, diz, apontando para o lado de
águas escuras e cheiro fétido que ocupa a frente da residência. “Esta calçada
foi meu marido que fez”, afirma, referindo-se à passagem improvisada feita de
tábuas.
Para Jéssica Gomes, 21 anos, e Venceliana Espírito Santo,
81, o problema é o lixo, que atrai moscas e torna impossível uma atividade
prosaica, como sentar em frente à casa para conversar com os vizinhos. “Tem
gente que vem de fora jogar lixo aqui”, conta Venceliana, apontando para uma
área na confluência das ruas 9 de Janeiro como Moura Carvalho. Há muito tempo o
local estava destinado a uma praça, mas, para desespero dos moradores, virou
depósito de lixo e chamariz para moscas.
GUERRA DE NÚMEROS
Responsável pela Companhia de Saneamento (Cosanpa), o
governo do Estado afirma que, apesar dos índices vergonhosos, há “avanços” na
área de infraestrutura. “O governo do Estado prefere não contestar os números
do ranking porque não estão claramente definidos a metodologia, a fonte
primária de informações e os parâmetros utilizados pela publicação”, afirmou o
Estado por meio da assessoria, mas ponderou que “existem diversos outros
indicadores absolutamente confiáveis e com resultado muito diferente daquele
que é apresentado”.
“O Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões
Metropolitanas Brasileiras, por exemplo, revela que a Região Metropolitana de
Belém (RMB) está entre as cinco que apresentaram mais avanços no Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), em termos relativos, entre os anos de
2000 e 2010”, diz o governo.
Em relação ao saneamento, o Estado promete investimentos
para ampliar a rede de abastecimento e beneficiar 500 mil pessoas. A
Cosanpa, por sua vez, também informa que há recursos do Programa e Aceleração
do Crescimento (PAC2) já aprovados para investimentos em saneamento. (Diário
do Pará)
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